Radiotelescópio brasileiro BINGO vai investigar o que é o lado escuro do universo

O projeto do radiotelescópio BINGO, liderado pela Universidade de São Paulo, recebeu destaque na mais recente edição da revista científica Astronomy & Astrophysics. Com o objetivo de estudar o lado escuro do universo, o radiotelescópio está sendo construído no sertão da Paraíba após um processo de preparação que já dura 12 anos, com colaboração internacional.
Em entrevista à CNN Rádio, o físico e professor da USP, Elcio Abdalla, explicou que o radiotelescópio possui múltiplos propósitos, sendo o principal mapear a matéria escura do universo, que representa até 96% de todo o conteúdo material existente. Além disso, o projeto visa alcançar metas tecnológicas, avanços na educação e divulgação científica, bem como contribuir para o desenvolvimento regional da Paraíba.

Mas o que exatamente é o lado escuro do universo? O cientista explicou que a questão é complexa. Há cerca de 90 anos, conjecturava-se que havia mais matéria no universo do que aquela que era visível, como planetas e buracos negros. No entanto, hoje sabe-se que não se trata disso. A matéria escura é algo “escuro” no sentido de ser invisível, como se fosse um líquido transparente que possui atração gravitacional, mas com o qual não podemos interagir diretamente, pois não está envolvido com o eletromagnetismo. Em resumo, “não sabemos nada sobre essa energia escura, mas reconhecemos seus efeitos na expansão do universo. É algo inédito e desconhecido na física, e suas propriedades ainda são um mistério.”

O principal objetivo do radiotelescópio BINGO é identificar propriedades desse setor escuro por meio da observação de ondas gigantescas. A fase atual do projeto compreenderá testes de funcionamento adequado que devem durar de 3 a 4 meses, e as primeiras observações científicas estão programadas para o primeiro trimestre de 2023, com previsão de continuação por alguns anos.